terça-feira, 15 de maio de 2012

Deixe o fado para quem o sabe cantar

Porque é que as queixas nos fazem tão mal?

Se houvesse um campeonato de queixas, creio sinceramente que o povo português seria o campeão mundial da modalidade.

Somos tão especialistas nesta prática que até conseguimos criar um estilo musical único no mundo, o nosso tão famoso fado.

Quantas vezes não ouvimos (e damos connosco a dizer) expressões como “é a vida”, “vai-se andando”, “é para o que estamos guardados”, etc.? E já alguma vez assistiu (ou participou) num “braço de ferro” para aferir qual das pessoas é a mais coitadinha, em que uma diz “tenho aqui um problema no braço...” e ao qual a outra remata logo com “isso não é nada comparado com a dor que tenho nas costas”?

A tendência para nos queixarmos é algo natural e fazemo-lo mesmo sem nos apercebermos. Queixamo-nos não só das “grandes” coisas mas também das “pequenas”, como do trânsito lento, da sopa estar fria, do clube de futebol que jogou mal, do computador que encravou, etc…

A ideia é “desabafarmos”, mas na maioria das vezes obtemos apenas um alívio temporário e enganador. Um pouco como tomar um calmante para tratar uma unha encravada. A pessoa até pode ter a sensação de que ficou um pouco melhor mas na realidade a unha ficou na mesma ou ainda pior pois passou mais tempo e nada se fez para a tratar.

Quando nos queixamos estamos literalmente a abdicar do nosso poder pessoal para fazer algo relativamente ao que nos incomoda. Passamos para um estado passivo, reactivo, que nos faz sentir indefesos. Pense, por exemplo, na diferença que existe entre a pessoa que está “desempregada” e que passa o dia a queixar-se disso, e a pessoa que está “à procura de emprego”, trabalhando activamente nesse sentido. Qual acha que será mais feliz? Qual acha que terá maiores probabilidades de sucesso? Não é preciso pensar muito, pois não?
Está provado que quando nos focamos no negativo, naquilo que não funciona nas nossas vidas, influenciamos directamente o nosso sistema nervoso, que vai reagir em conformidade com os nossos pensamentos através de uma reacção de stress que, no limite, nos será muito prejudicial à saúde. Já reparou que as pessoas mais negativas são normalmente as que andam mais vezes doentes?

Principalmente nos tempos que correm de crise financeira e social, é fundamental cada um assumir a responsabilidade pelos seus actos. É tempo de cada pessoa deixar o “fado” para quem realmente o sabe cantar e começar a encarar a vida com outra atitude. É claro que irão sempre existir situações que nos melindram, injustiças, dor, etc., mas a forma como se lida com elas é que vai fazer toda a diferença.

Para isso é necessário um maior grau de consciência, estarmos mais atentos e vigilantes para que quando nos queixarmos consigamos “mudar o disco”.

Lanço-lhe o desafio de durante a próxima semana tentar “apanhar-se” a si a queixar. Esteja vigilante e comece a aperceber-se de como se manifesta essa tendência natural. Sempre que der por si a “cantar o fado”, assinale-o (ex. registe a queixa num diário, no telemóvel, etc.). Torne-se mais consciente e conheça-se melhor. Descubra se existe um padrão ou algum tema sobre o qual tenha tendência a focar-se mais. Depois veja se pode fazer algo para mudar a situação. Se puder, FAÇA-O!!! Se não puder, aceite-o e siga a sua vida! Veja o poder que uma simples atitude pode fazer.

E quando der por si com vontade de se queixar lembre-se desta famosa frase: “Que eu tenha a capacidade para mudar aquilo que posso, a capacidade de aceitar o que não posso e a sabedoria para perceber a diferença”.


In zorbuddha.org

Sem comentários:

Enviar um comentário